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PasseVite, Lisbonne, Portugal…

passeviteA serendipidade(*), anglicismo labiríntico aplicável a múltiplos domínios, não deve ser confundido com o acaso, mesmo se este tem um papel preponderante. Diríamos que a serendipidade é auxiliar duma pesquisa, a resposta inesperada a uma questão colocada, porque a sagacidade de quem procura encontra, num ápice, entre duas circunstâncias, uma relação que elas aparentemente não tinham.

A criação existe, em todos os níveis, em todos os domínios, para lá de falsas hierarquias impostas pela crença dominante. Criar é arriscar, verbo que subentende um possível falhanço, na procura duma singularidade verdadeira. Criar um vinho novo está ao mesmo nível do universo de pintar um quadro, tirar uma fotografia, escrever um poema ou criar uma composição musical.

O criador é aquele que, detentor duma peculiar sabedoria está sempre a levantar questões sem fim e a inventar emoções. O que é um observador, um ouvinte, um degustador? É aquele que está à procura duma emoção escondida num qualquer lugar, mesmo que ele pareça banal; é aquele que está apto a recebe-la, num território físico e mental; é aquele que é capaz de recebe-la espontaneamente não por imposição duma qualquer instituição cultural, de génesis autoritária, mas sim porque o criador, e não outro, foi capaz de provocar essa precisa emoção; porque ele à vez foco-se e deixou-se ir.

É a razão pela qual encontramos aqui reunidos três criadores, um pintor, um fotógrafo e um viticultor. Todos os três movem-se pelo mesmo desejo: produzir um encontro não expectável, independentemente das suas intenções iniciais. Eles procuram uma coisa, por vezes encontram outra, mas quando a encontram é porque nunca deixaram de pensar ir ao seu encontro.

René Pons

* SERENDIPIDADE
Acontecimento favorável que se produz
de maneira fortuita; acaso feliz; descoberta
acidental.
Dicionário da Língua Portuguesa,
Porto Editora, 2003-2016.

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