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O Limiar do Impossível

C’est avec un plaisir tout particulier que nous accueillons dans notre équipe de bras cassés une nouvelle «plume» qui collaborera… au rythme où elle l’entend. Il s’agit de Duarte Palha qui vit à Vila Franca de Xira en un lieu que nous goûtons particulièrement puisqu’il s’agit de la Quinta das Areias d’où son grand-père élevait et rêvait des toros blancs à tête noire. Duarte Palha poursuit les rêves de son aïeul avec ses oncles António et Luis Van Zeller Palha mais nous lui avons proposé d’écrire ici avant tout parce qu’il écrit bien et tout simplement parce qu’il aime l’écriture, les mots et les toros. Duarte Palha tient un blog personnel : Um par semana. Bienvenue à toi Duarte !


moranteJulgava o mundo que a suavidade era a brisa quente de um fim de tarde de verão. Esse vento que se entranha pelas mangas e colarinhos, que nos sopra ao ouvido, à flor da pele e a todos os sentidos. Que nos abraça, que nos prende àquele instante. Esse vento com que o verão faz inveja às outras estações, porque Deus pôs nesse sopro toda a sua perfeição. Julgava o mundo que a suavidade era o bater calmo das ondas num dia de céu limpo. O compasso lento do oceano e o seu ir e vir. Aquele som da água que chega a terra, serena, sem pressa, que dá a sua missão de onda por cumprida, sem alarde ou espalhafato. Julgava o mundo conhecer a suavidade, do vento e das ondas, até ao dia em que Morante parou um toiro à verónica.

Pensava o mundo que a beleza era o campo na primavera. Das milhares de cores e da harmonia dos bichos. Que era o verde fresco, ainda húmido da erva a crescer do chão e o cheiro a flores que, vaidosas, lançam ao vento o seu perfume. Esses meses em que a terra não tem medo da abundância e que o campo nos devolve o paraíso que nos foi roubado numa dentada. Pensava o mundo que a beleza era o céu estrelado de uma noite sem nuvens. Das noites em que a escuridão nos prepara a surpresa que o sol esconde. Das noites de que falam os poetas antigos, em que o céu vai para lá daquilo que o homem pode alcançar. Desse céu que sonhamos ser o telhado de nossa casa e nos faz sentir raiva do sol e da sua urgência em brilhar. Pensava o mundo saber da beleza, da primavera e do céu estrelado, até à tarde em que viu Morante tourear um toiro ao natural.

Acreditava o mundo que o impossível era o homem voar pelos céus. Combatendo a vertigem, o medo e a gravidade. Ver o mundo como um pássaro e cruzar oceanos em menos de um sono profundo. Tocar as nuvens e descobrir do que são feitas, e ver o fim do mundo a estender-se além da vista. Acreditava o mundo que o impossível era o homem pousar na lua. Domar o planeta da noite e fazer dele propriedade sua. Voar em linha recta até ao topo da ambição e ver a humanidade de cima, em toda a sua pequenez. Propulsar-se na escuridão e descobrir os segredos aos crescentes e minguantes, voando de passo em passo. Acreditava o mundo ter já desvendado o impossível, o cruzar dos céus e o cruzar do espaço, até ver Morante pegar uma meia verónica com uma muleta de palillo partido.

Duarte Palha

  1. Anne Marie Répondre
    Oui, bienvenue à la famille et dans la famille qui aime les Toros. Les vrais. Merci Cyr.

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